A paixão é humana – Via Crucis

Projeto: A paixão é humana
Série: Via Crucis

O trabalho surgiu da necessidade de manifestar poeticamente os insights emergentes das sessões de psicanálise, durante o ano de 2005, traçando um paralelo entre a vida do homem contemporâneo mergulhado em seus anseios, buscas e dificuldades, enquanto caminheiro no sacro ofício do seu desenvolvimento e as passagens da Paixão de Cristo bíblico.
A pintura executada com vigorosas pinceladas em cerâmica esmaltada, crestadas numa única cor, reforça a dramaticidade desta “via crucis” desse ser humano.
A montagem final do quadro é o agrupamento das cerâmicas em formato de cruz e, comparando às proporções do corpo humano, na altura do coração, o vazio, simbolizando o vazio de sensações, após grande esforço ou sofrimento em vão.

Objetivos:

As quinze tésseras com cenas percebidas no quotidiano dos humanos têm como objetivo provocar uma analogia, de forma a humanizar esse Cristo e divinizar esse Homem, também condenado a sucessivas estações de superação, tais como:
– o homem é condenado a viver num mundo de contradições;
– carrega sua cruz (vida) como um tesouro;
– na primeira queda, oferece resistência em encostar os joelhos no chão;
– nos encontros profundos com a mãe, rejeita sua presença;
– mantém os pés fincados impossibilitando a ajuda externa;
– mais e mais se depara com suas questões íntimas;
– na segunda queda, aprende a tocar os joelhos em terra numa atitude de entrega;
– depara-se com seus múltiplos eus;
– mais que uma queda, se quebra;
– nesse mergulho em si, se descobre nu e frágil;
– desprende se da cruz, na tentativa de libertação;
– o homem morre e revive a cada dia, num exercício de ressurreição constante.

Justificativa:

A falta de identificação com as referências de Jesus bíblico cria uma dicotomia entre o homem e o divino, dificultando a compreensão, a internalização do sofrimento como passaporte para o crescimento enquanto pessoa.

Metodologia:

As quinze estações foram pintadas em suporte de cerâmica esmaltada de 31×31 cm de medida cada, queimadas a 900°C.
As composições foram extraídas e elaboradas a partir de desenhos executados no ofício regular das sessões de modelo vivo em ateliê.
São agrupadas numa ordem de privilégio e fixadas em uma placa de madeira em formato de cruz, cuja medida é 134 cm de largura por 200 cm de altura.

Bibliografia:

Adorno Teodor W. Teoria Estética. São Paulo, Arte e Comunicação,1992
Albert, Leon Batista. Da Pintura. Editora da Unicamp, 1992
Arnheim, Rudolf. Arte e percepção visual, Nova Versão, 1997
Bosi, Alfredo. Reflexões sobre a arte. Editora Ática, 1995
Cennini, Cennino. Il libro dell´arte. Neri Pozza Editore, 1995
Diderot, Denis. Ensaios sobre a pintura. Editora da Unicamp, 1993